A Fuga da Penitenciária de Lisboa

 A 21 de Setembro de 1985, às 6h30 da manhã acontece uma das maiores fugas da prisão de onde escaparam 10 perigosos terroristas das FP-25 , Teodósio Alcobia, Aldino Pinto, Couto Ferreira, Daniel Horácio, Baptista Dias, Monteiro, Dias Lourenço, Francisco dos Santos, José Moreira, Manuel Costa e um espanhol, criminoso de delito comum, que nada tinha a ver com as FP-25 -  Luis Caamano.






Os fugitivos usaram uma chave falsa para abrir as celas, mas, entretanto, esta partiu-se. Em total atropelo das normas de segurança, definidas pela DGSP, um dos guardas prisionais foi fazer as suas necessidades a uma casa de banho, na ala onde se situavam as celas dos presos, que, entretanto, tinham já saído das suas celas. Com a porta de segurança da ala aberta, a fuga ficou bastante facilitada, até porque para facilitar a circulação do dito guarda, do seu posto até ao WC mais dois portões de abertura diferenciada tinham ficado inexplicavelmente abertos. Não contente com todas estas falhas, um grupo de guardas estava posicionado no lado errado sem a proteção da porta de segurança. Foi por isso fácil, manietar os guardas, retirar-lhes as fardas e as armas e sair normalmente pela porta principal. Cá fora esperava-os um comando, fortemente armado em dois carros. Foram então surpreendidos pelas sentinelas da GNR que reagiram com disparos. Felizmente a Kalashnikov com a qual o comando exterior reagiu, encravou impedindo uma carnificina entre os guardas. 

A gravidade das falhas foi tal que logo se colocou a suspeita de que teria havido conivência dos guardas, o que resultou na suspensão de alguns deles. Após conclusão do inquérito interno que referia «se verificaram erros, graves negligências e mesmo porventura cumplicidades que explicam a fuga dos reclusos». Quatro guardas prisionais foram suspensos de funções (uns meses depois são reintegrados no serviço sem qualquer sanção disciplinar), depois do assassinato de Gaspar Castelo-Branco e da nomeação de Fernando Duarte como seu (fraco) substituto – apelidado pelo jornal “ Semanário” como – “ o burocrata”.  

A esta fuga, José Teles, o único jornalista português que acompanhou o Processo das FP-25 do principio ao fim,  chamou-lhe o Nacional Porreirismo, onde á cabeça dos responsáveis estava o ministro das Justiça, Mário Raposo — «que dias antes autorizara os detidos a todas as acções possíveis de campanha para as eleições autárquicas, onde alguns dos detidos eram supostamente candidatos, nunca tendo a FUP efectivamente concorrido às ditas eleições, já que desistiu antes. Especialmente referidos foram também os deputados do PS , Hasse Ferreira e Margarida Marques — «que se apresentavam nas cadeias de cada vez que alguma reivindicação dos detidos se perfilhava no horizonte» —, o provedor de Justiça, a Ordem dos Advogados, as «instituições de caridade que se movimentam nos jornais», a candidata  presidencial Maria de Lurdes Pintasilgo, enfim, «no meio de tantos “gajos porreiros”, como estranhar que os guardas prisionais, convivendo com os detidos 24 horas por dia, não se transformem também em “gajos porreiros”. O próprio Director-Geral dos Serviços Prisionais foi injustamente incluído no rol de acusações iniciais, mas ilibado pelo próprio jornalista no artigo da semana seguinte e posteriormente elogiado a título póstumo, num artigo no final do ano em que Gaspar Castelo-Branco foi considerado o “homem do ano”.  PS este artigo será aqui publicado mais tarde.


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