Os livros e ensaios sobre as Forças Populares 25 de Abril (FP-25)

Para quem queira saber algo mais sobre as Forças Populares 25 de Abril, existem hoje várias fontes, que infelizmente não estavam disponíveis há uns anos. 

O primeiro livro publicado sobre as FP-25 de Abril foi o "Caso FP-25 de Abril": Alegações do Ministério Público. Este foi um livro que reproduz as alegações do Ministério Público no julgamento. Segundo a descrição do jornal "Observador"  -  "Ao todo, o procurador Francisco Teodósio Jacinto demorou 39 horas, ao longo de duas semanas e doze sessões, no Tribunal de Monsanto, a discorrer as alegações finais do Ministério Público e a expor o caso contra a organização terrorista liderada por Otelo Saraiva de Carvalho..."

O livro depois de publicado, e quando se encontrava em distribuição, foi mandado recolher e destruir pelo Ministro Mário Raposo, como medo da reação pública, após um artigo de um advogado Luso Soares, politicamente próximo da extrema esquerda. A história está toda publicada aqui.



Alegações do Ministério Publico no julgamento  https://observador.pt/2021/12/20/livro-com-alegacoes-finais-do-ministerio-publico-no-caso-fp-25-disponivel-online/

No site do Instituto + Liberdade ou no site da Aletheia

O segundo documento/livro a debruçar-se sobre o tema foi publicado em 2005, por um jornalista (hoje sub director da revista "Sábado". António José Vilela - "Viver e Morrer em Nome das FP-25".



O livro tem uma exaustiva descrição de factos no que se refere aos crimes e às bolandas do processo jurídico. Nota-se que o autor fez um exaustivo trabalho de investigação e pesquisa dos processos, penso que depositados na Torre do Tombo. Adicionalmente entrevistou vários dos protagonistas, entre juizes, procuradores, elementos da Polícia Judiciária e alguns dos terroristas, entre os quais Otelo Saraiva de Carvalho. As entrevistas estão publicadas no final do livro.

No entanto o livro peca por não fazer qualquer análise da situação política, enquadramento e por isso é absolutamente acrítico sobre a forma como este processo foi gerido, quer pelo poder politico e judicial. Por outro lado, relega as vítimas para um papel demasiado secundário até porque a descrição dos crimes é a que consta nas "Alegações do Ministério Público ou nos vários Processos".  Para Vilela, as vítimas são apenas números, quanto mais não seja pelo relato exaustivo dos (baixíssimos) valores de indemnização atribuídos pelo Estado. Isso parece ter preocupado mais Vilela do que o sofrimento, a brutalidade e a desumanidade do crime cometido. Por fim, o índice e a forma como a organização está organizada é um pouco confusa. Ainda assim, não deixa de ser um livro importante e tê-lo feito em 2005, demonstra alguma coragem. Pena não ter ido mais longe. O livro teve uma tiragem bastante reduzida e encontra-se hoje totalmente esgotado.

A seguir o ensaio escrito pelo Manuel Castelo-Branco, filho de Gaspar Castelo-Branco, Director Geral dos Serviços Prisionais que escreveu para o Observador, em Março de 2021, a propósito dos 25 anos passados sobre a amnistia. À lei da Bala, os 25 anos sobre a amnistia ás Forças Populares 25 de Abril é um relato impressionante e bastante claro sobre o que foram as FP-25 de Abril.

O ensaio é aberto, ao contrário da grande maioria dos artigos do Observador. Além de uma descrição isenta dos factos, o que é absolutamente extraordinário, para quem como o Manuel Castelo-Branco, viu o pai assassinado á porta de casa, com apenas 17 anos, termina com uma nota pessoal que não deixa ninguém indiferente, até pela forma desassombrada como o próprio fala da sua dor e sofrimento, mais de 30 anos depois do assassinato do Pai. Vale muito a pena ler, até porque o Manuel foi, durante muitos anos, na televisão, na imprensa ou no blog 31 da Armada quase a única pessoa que se bateu pela reposição da verdade e da memória vilipendiada de seu Pai. 

Finalmente em Abril de 2021, Nuno Gonçalo Poças, um jovem advogado, sem qualquer ligação política ou partidária, escreve aquele que é até hoje, o melhor documento sobre as FP-25 de Abril -  "Presos por um Fio - Portugal e as FP-25 de Abril"



O autor faz uma menos exaustiva descrição dos factos, quando comparado com o livro de António José Vilela mas tem muitos méritos a mencionar. Faz uma análise do enquadramento histórico, quer nacional, quer internacional, não deixando de avaliar as condições para o nascimento da organização terrorista. É o trabalho de investigação político e jurídico que pela primeira vez, nos explica a intromissão do poder político no judicial e de como este veio interromper o normal caminho da justiça. O livro tem ainda alguns factos novos, quer relativamente à ameaça feita por carta a Adriano Moreira quer ao relato impressionante sobre a coragem e sentido de dever de Gaspar Castelo-Branco. Foi um sucesso estrondoso (no contexto de livro de não ficção histórico) tendo estado várias semanas nos tops e nas referencias dos principais comentadores politicos, de direita ou de esquerda. Foi um volte face no resgatar do esquecimento colectivo da organização terrorista e a trágica tentativa de impor pela intimidação e a força das armas um regime de democracia directa e popular, sem partidos, sem parlamento, sem liberdade. Adicionalmente, o livro descreve, com rigor e em linguagem muito acessível (para não licenciados em direito), os meandros do processo judicial, as pressões do poder político, a promiscuidade entre terroristas e jornalistas, ou entre os advogados e os seus clientes. Por fim, o último capítulo descreve-nos onde estão os terroristas hoje, entre o BE e o PS. O mérito do livro é ser absolutamente rigoroso na descrição dos factos, sem deixar de ser por isso de ter uma posição crítica sobre a forma como a sociedade e o poder politico lidaram com o tema. 

Este é sem dúvida o melhor livro/documento sobre a organização e em muito contribuiu para a mudança de atitude e fim da tolerância para com um dos seus dirigentes e fundador das FP-25 de Abril - Otelo Saraiva de Carvalho.  Se no momento da sua morte, este não teve direito a honras de estado, foi porque os livro e o ensaio acima mencionados recuperaram a verdade dos factos, que estava ostensivamente esquecida. 


Comentários

Mensagens populares deste blogue

Gaspar Castelo-Branco

Terrorismo de Extrema Esquerda em Portugal